ACIDENTES PÓS - VACINAIS
1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste relato técnico é prestar importantes esclarecimentos aos proprietários de animais de estimação, quanto aos riscos dos procedimentos de imunização (vacinação) de seus animais, sem a devida orientação e/ou supervisão médico veterinária; considerando que esta vem se tornando uma prática, cada vez mais comum e temerosa, com o advento da comercialização de vacinas em pet shops e lojas de produtos agropecuários.
Não somente os aspectos abaixo apresentados seriam os fatores únicos de nossa preocupação com a vacinação praticada por leigos, mas também aqueles que proporcionam interferências negativas nas respostas imunológicas às vacinas; tais como, interferência de anticorpos maternos, verminoses e doenças intercorrentes. Fatores estes também, que só poderão ser detectados e resolvidos por médicos veterinários.
2. OS ACIDENTES PÓS-VACINAIS
Existem três formas principais de manifestações sintomáticas que caracterizam os acidentes pós-vacinais; reações alérgicas locais, reações alérgicas sistêmicas (choque anafilático) e acidentes neuro-paralíticos.
A) Reações alérgicas locais
As reações alérgicas locais que podem ocorrer após a aplicação de vacinas estão associadas a presença de um adjuvante de imunidade, necessário para aumentar a resposta imunogênica. A maioria das vacinas inativadas contém adjuvantes e a reação pós-vacinal está relacionada com uma questão de sensibilidade individual. Estas reações locais se caracterizam por uma alopecia (queda de pelo) no local de aplicação da vacina, como resultado de uma paniculite granulomatosa focal ou de uma vasculite, podendo se apresentar hiperpigmentada.
B) Reações alérgicas sistêmicas (Choque Anafilático)
A anafilaxia é uma síndrome determinada por um choque sistêmico, que se manifesta minutos após a disseminação do alérgeno nos animais sensibilizados. Dentre os alérgenos que podem induzir a uma anafilaxia estão as vacinas. Os órgãos envolvidos na anafilaxia, na maioria dos animais, são o baço e os pulmões. A liberação de aminas vasoativas resulta em uma vasodilatação esplênica, colapso vascular periférico, e em casos severos, coma e morte. Os sinais clínicos incluem náusea, vômitos, diarréia, inquietação, ataxia, ataques epileptiformes, palidez das membranas mucosas, taquipnéia e taquicardia. Alguns animais podem mostrar sinais de hipersalivação, tenesmo e defecação.
A anafiaxia pode também ocorrer em formas localizadas, referidas como edema angioneurótico ou facio-conjuntival e reações urticariformes. O edema angioneurótico é tipicamente manifestado por inchaço dos lábios, pálpebras e conjuntiva, e é gerado pelo mesmo tipo de alérgeno que induz a anafilaxia sistêmica. As lesões urticariformes são lesões salientes e pruriginosas da pele, que ocorrem alguns minutos após à exposição ao alérgeno.
C) Acidentes neuro-paralíticos
São afecções nervosas desmielinizantes ou mielinoclásticas, determinantes de uma encefalomielite alérgica, cujo substrato é a desmielinização do Sistema Nervoso Central. Estas afecções têm maior importância no cão, que é mais sujeito a tais encefalites, pela frequência com que é imunizado com determinadas vacinas anti-rábicas. Está evidenciado que a substância responsável pela encefalite alérgica existe na substância branca do cérebro de mamíferos. Quando injetada esta substância, haveria a formação de anticorpos que se ligariam a uma parte não determinada da mielina, causando sua degradação e consequente estabelecimento da encefalite alérgica. Em condições naturais, o processo aparece sobretudo em animais e em seres humanos, que inesperadamente exibem sintomas de paralisia, alguns dias após à administração de suspensões de tecido nervoso (vacinas antirábicas). A afecção se inicia, comumente, por paralisia de um ou mais membros, com rápida progressão por todo o corpo. A morte é o desfecho habitual, nas formas graves da enfermidade.
3. CONCLUSÕES
Podemos ver desta forma, que todo processo de imunização em animais domésticos de estimação deve passar pelo crivo da responsabilidade técnica de um profissional médico veterinário, que avalie primeiramente a condição básica de saúde deste animal que será submetido à vacinação; analisando seu nível de infestação parasitária, sua condição nutricional e elaborando um programa de vacinação que obedeça as possíveis condições de imuno-interferências, para definição do quantitativo adequado de doses seriadas em relação a faixa etária de aplicação do mesmo. Por conseguinte, em decorrência dos riscos de acidentes pós-vacinais descritos, a exigência de uma supervisão e acompanhamento do ato de aplicação deste programa de vacinação, fica clara e evidentemente demonstrada neste relato técnico.