DIABETES
A diabetes é freqüente na espécie
canina e ocorre mais nas fêmeas do que nos machos. Em algumas raças (Poodle, Dachshund, Schnauzer
anão, Beagle, Golden
retriever, Spitz, Samoieda), observam-se predisposições genéticas
que favorecem o desenvolvimento da doença.
Diabetes Melito - DESENVOLVIMENTO
Clinicamente, a diabetes
caracteriza-se pela manifestação de uma síndrome que apresenta poliúria e
polidípsia: o cão urin e bebe mais do que o normal. Esta síndrome costuma ser
acompanhada de emagrecimento, apesar do aumento do apetite.
A estas manifestações, clássicas,
da diabetes melito, podem-se acrescentar problemas cutâneos, em particular
alopecia e piodermite; problemas oculares dominados pelo aparecimento de uma
catarata; problemas urinários diferentes da poliúria, que costumam traduzir-se
numa infeção; e, aumento do volume hepático, revelado pela palpação
abdominal.
DIAGNÓSTICO
Primeiramente, o veterinário deverá
diferenciar o tipo de diabetes (melito ou insípido) em função dos sintomas, o
clínico deverá solicitar uma análise para determinar a quantidade de glicose
no sangue do animal em jejum.
Em caso de diabete, a glicemia, cuja
percentagem normal situa-se entre 0,80 e 1,20 g/l, eleva-se sempre acima de 1,5
g/l. Podem-se produzir valores muito elevados, de até 4 g/l. Quando a
glicemia ultrapassa 1,80 g/l, o excesso de glicose é eliminado pela urina (glicosúria).
A ausência de glicose na urina não
é suficiente para se concluir que o animal não é diabético. Além da
glicose, o veterinário costuma medir outros parâmetros sangüíneos, cujas
variações podem revelar o aparecimento de complicações hepáticas ou renais,
freqüentes ao longo desta doença. Assim, a análise dos transaminases (cuja
percentagem revela o bom ou mau funcionamento hepático), da uréia e da
creatinina (cujas percentagens referem-se a qualidade do funcionamento renal) são
essenciais para poder avaliar as repercussões da patologia no fígado e rins e
precisar o prognóstico. Se existem complicações renais em particular, o prognóstico
da diabetes melito deve ser feita com reserva, seja qual for a terapia
empreendida.
PROCURAR
AS CAUSAS QUE FAVORECEM
Quando se confirma a existência de
diabete melito, é muito importante investigar as causas que podem favorecê-la.
A diabetes do cão pode estar associada a outras doenças ou desequilíbrios endócrinos.
Assim, pode ser comprovada a evolução da síndrome de Cushing (hiperadrenocorticismo),
no caso de excesso de secreção de hormônio do crescimento, de desequilíbrio
endócrino na época do cio, de feocromocitoma (tumor geralmente benigno da
medula supra-renal), de hipertiroidíase ou, também em conseqüência de injeções
de cortisona. A investigação das causas favorecedoras é muitíssimo
importante, pois seu tratamento específico permite curar, definitivamente, a
diabetes melito ou, pelo menos, facilitar o seu tratamento sintomático.
TRATAMENTO
Depois da definição do diagnóstico,
aplica-se uma terapia destinada a suprir a deficiência de secreção de
insulina pelo pâncreas. Esta terapia, freqüentemente baseada na injeção de
insulina de origem porcina, não deixa de ocasionar problemas, e deve ser bem
elaborada. Não se trata de fazer baixar a glicemia para seu valor normal, o que
seria praticamente impossível e até perigoso, pois os riscos de hipoglicemia são
reais, mas sim, de reduzir a percentagem abaixo de 2g/l quando a atividade da
insulina atinge um nível máximo.
Para chegar a este resultado,
recomenda-se administrar, durante 2 a 3 dias, uma dose-padrão de insulina,
calculada em função do peso do animal; pode ser necessário a hospitalização
durante um dia para se fazer uma curva da glicemia com coletas de sangue de meia
em meia hora, durante 12 horas. Esta curva informa sobre os níveis de glicose
no sangue e permite corrigir, eventualmente, a dose de insulina prescrita no início
do tratamento e determinar as horas mais adequadas para a distribuição das
refeições. Uma vez determinados estes valores, convém cumpri-los, e, em
particular, injetar a dose de insulina por via subcutânea em cada dia, na mesma
hora, em uma ou em 2 vezes.
Em princípio, este tratamento será
aplicado durante toda a vida do animal: em todo caso, a correção dos desequilíbrios
endócrinos, anteriormente mencionados, permite deixar de aplicar a
insulinoterapia aos poucos, num reduzido número de casos. Na fêmea, quando a
diabetes é conseqüência de um problema genital, aconselha-se proceder à
castração, a fim de suspender o tratamento com insulina ou de controlar
melhor as variações da diabetes, que de vez em quando, exigem uma modificação
da dose a ser administrada.
O acompanhamento da doença nunca se
deve basear na pesquisa de açúcar na urina, pois os erros de interpretação,
algumas vezes consideráveis, podem induzir em erro no tratamento e levar
(esse o maior risco) a injetar doses de insulina capazes de provocar a morte do
animal. Uma coleta mensal de sangue permite um acompanhamento seguro da evolução
da doença.
Os acidentes, ou incidentes, da
insulinoterapia, são dominados pelo aparecimento repentino de uma hipoglicemia
que, clinicamente, se traduz em fadiga, transtornos de locomoção e, nos casos
extremos, coma. Estas complicações requerem um tratamento específico, de urgência,
que só pode ser decidido pelo veterinário.
Paralelamente ao tratamento médio,
será necessário adotar uma dieta hipocalórica. A este respeito, existem
regras específicas que só o veterinário deve decidir.
RESUMO
Apesar do melhor conhecimento dos
mecanismos da diabetes melito no cão e dos exames modernos, o tratamento da
doença no cão continua sendo difícil, exige muita atenção por parte do
veterinário e, principalmente, do dono, que será obrigado a aplicar, todos os
dias, a injeção de insulina e a dar comida em horários determinados.
Infelizmente, existem muitos fatores (alimentação, nível de atividade)
capazes de quebrar o equilíbrio estabelecido. Portanto, é um tratamento que
exige perseverança.
Diabetes Insípido - DESENVOLVIMENTO
O diabetes insipido (D.I) pode se
apresentar sob 2 formas: central, onde ocorre uma deficiência hormonal, e
nefrogênica, caracterizada por problemas ao nível dos rins. Ambas impedem que
o animal afetado concentre a urina.
Central ou Nefrogênica?
Na filtração glomerular, mais de
90% da água é reabsorvida pelos rins. Esta reabsorção, vital para o
organismo porque impede a desidratação, está sob influência do hormônio
antidiurético (ADH), que é sintetizado no núcleo supra-ótico e núcleos
para-ventriculares do hipotálamo, sendo armazenado na hipófise superior. Se
ocorrerem processos inflamatórios, circulatórios ou tumorais nesta região,
este hormônio pode ter sua síntese e/ou secreção comprometidas, tratando-se,
então, de um diabetes insípido central.
Se o ADH for secretado mas as células
do nefron distal e ductos coletores renais não lhe forem sensíveis, o diabetes
será insípido nefrogênica ou renal. A insensibilidade dessas
estruturas raramente é congênita (na patologia veterinária canina foram
descritos apenas 3 casos). Na realidade, o diabetes insípido nefrigênuca
costuma ser secundário a outros distúrbios dos rins; nesses casos é reversível,
isto é, depois do tratamento, o nefron distal e os ductos coletores podem
recuperar a sensibilidade ao hormônio antidiurético, também chamado de
vasopresina.
Em qualquer das 2 formas de diabetes
insípido, existe uma eliminação excessiva de água pela urina, que se traduz
numa polúria que o dono, às vezes, pensa ser incontinência, em virtude da
grande freqüência de micções. Esta poliúria provoca uma polidipsia sendo,
geralmente, a sede anormal o único sintoma da diabetes insípido que leva a
procurar um médico.
DIAGNÓSTICO
Para fazer o diagnóstico quando tudo
aponta para o diabetes insípido, o veterinário calcula as quantidades de água
tomadas pelo cão e submete-o a uma prova de privação hídrica.
Na maioria dos casos quando não
existe ingestão de água, todos os cães em bom estado de saúde podem
concentrar a urina. Essa concentração pode ser visualizada, pois a urina vai
se tornando mais escura. Mas o veterinário pode calcular a concentração com
aparelhos especiais para este fim e que medem a densidade urinária. No cão
normal, submetido a uma privação hídrica durante 6 a 12 horas, essa densidade
é superior a 1,025. Se continuar sendo inferior a 1,025 no fim das 12 horas, o
diagnóstico de diabetes insípido confirma-se.
Para saber se o diabetes insípido é
central ou renal, faz-se a prova da vasopresina, que consiste em injetar o hormônio
antidiurético e verificar se, depois ocorre uma concentração urinária; se
ocorrer, o diabetes insípido será central; caso contrário, será renal,
restando então determinar a causa do problema.
TRATAMENTO
O tratamento do diabetes insípido
central é substitutivo, baseado em injeções de hormônio antidiurético. O
diabetes insípido renal é mais problemático, pois é decorrente de um fator
primário que está afetando os rins.
Coleção NOSSOS AMIGOS, OS CÃES