HEPATITE CONTAGIOSA CANINA
É enfermidade infecto-contagiosa própria dos cães, sendo exemplo típico de uma enfermidade bem característica que permaneceu durante muito tempo ignorada, e sendo confundida devido seus sintomas com outra também, como ela, causada por um vírus. Somente em 1947 foi descrita pela primeira vez como entidade própria, sendo até aquela época confundida com a Cinomose, que também acomete cães.
Revisões de preparações histológicas
anteriores, procedidas por Pallaske, demonstrou que a enfermidade já existia
desde muito tempo, porém não conhecida como entidade nosológico distinta de
outras viroses.
É essa virose denominada
resumidamente como HCC, caracterizando-se por uma hepatite e perihepatite
fibrinosa, edema da vesícula biliar e em alguns casos por diásteses hemorrágicas.
Causa o vírus inclusões patognomônicas pela presença de corpúsculos de
inclusão nos núcleos das células hepáticas. Esta também a doença presente
em raposas, e nestas determinam encefalites, ou seja, um quadro clínico
completamente distinto daquele que se verifica em cães, constituindo-se estes
sintomas mera exceção quando ocorrem em cães.
Sintomas
Sem nenhuma dúvida o quadro clínico
é muito parecido com aquele que apresentam os cães quando acometidos por Cinomose, sendo mera diferença apenas a
gradação dos sintomas e lesões entre uma e outra doença. Pode se apresentar
de três formas clínicas distintas:
QUADRO SUPERAGUDO
Neste, em geral
não é a doença diagnosticada senão após a morte do animal, devido sua evolução
ultra rápida, sendo os animais encontrados mortos pela manhã após ligeiros
sinais de doença na noite anterior. Nestes casos, quase sempre, suspeitam os
proprietários dos animais de seu envenenamento.
QUADRO AGUDO
Os animais
mostram apatia, estupor e inapetência, e as vezes também sede intensa. A curva
febril exibe dois e no máximo três picos, porém nenhum deles atingindo o máximo
de seu pico anterior. Há de certo modo, semelhança com a curva térmica
denominada bicúspide que se verifica também na Cinomose. Verificam-se também
conjuntivites e hiperemia epiescleral, distinguindo porém daquela
relevantemente purulenta e tão resistente a todo tratamento que ocorre na
Cinomose.
Ao fim de alguns dias instala-se na córnea,
uma opacidade dessa mucosa, comumentemente unilateral, o qual coincide com novo
acesso febril. Esse turvamento da córnea é paulatino, e raras vezes perdurando
até 3 semanas, e resistente a todo e qualquer tratamento específico. Nos órgãos
respiratórios são notados distintos graus de amigdalite, faltando nestes
aquele quadro pneumônico da Cinomose. O interior da garganta (fauces),
encontra-se vermelho e inflamado, apresentando os animais doentes dificuldades
para engolir , o que motiva vômitos por ação reflexa. Especialmente dolorosa
é a palpação da região do apêndice xifoide em animais doentes por HCC,
reagindo a essa exploração violentamente esses animais acometidos pela doença.
Raramente existe icterícia.
Digno de se ter em conta, pela eficácia
em todos os casos, é o exame de sangue. De início são comprovados como em
todas as viroses: leucopenia, que ao baixar a febre é convertida em
leucocitose. Por isso a investigação morfológica do sangue carece de importância
. Só na fase inicial da HCC se apresenta a leucopenia (diminuição relativa
dos glóbulos da linhagem branca - leucócitos), o que é diferente do quadro
quando se trata de Cinomose, sendo nesta desde seu início presente a
Leucocitose (aumento relativo dos glóbulos da linhagem branca - leucócitos).
No entretanto, tendo duração mais longa, também na HCC a leucocitose é
presente. O mecanismo de coagulação do sangue, nos animais acometidos por HCC,
é encontrado completamente alterado, com aumento do tempo de sangria, o que não
acontece com a Cinomose. A velocidade de sedimentação do sangue também
encontra-se aumentada. Em geral, existe a suspeita de HCC quando enfermam
animais com menos de 8 semanas e quando os sintomas aparecem repentinamente, e
muitas vezes violentamente. Estão presentes febre, amigdalite, enfarto dos gânglios
linfáticos cefálicos, incluídas amígdalas, conjuntivite serosa e não
purulenta (com rinites) além de albuminúria inconstante. É desfavorável o
prognóstico quando presentes icterícia e temperatura subnormal (hipotermia). O
turvamento da córnea, é na maioria dos casos de curso leve . Especial importância
tem o aumento do tamanho do fígado (hepatomegalia), além de externarem dor os
animais nessa palpação, apresentando também o baço aumento de tamanho (esplenomegalia).
Tratamento
Tem especial valor o soro hiperimune
(gama-globulinas), quando precocemente aplicado, mesmo tratando-se de soro
misto, como o ora existente no mercado de produtos veterinários. Deve ser também
precedido ao tratamento sintomático, com medicação reconstituinte para o fígado,
além de aplicações parenterais de sôro-glico-fisiológico em altas doses, além
de vitaminas do complexo B. A vitamina K, indicada para melhorar a coagulação
do sangue, sua ação ainda depende ainda de demonstração mais eficaz nessa
doença.
Prevenção
Existem no mercado de produtos
veterinários, várias vacinas com indicação preventiva contra HCC, sendo
particularmente eficientes aquelas fabricadas pela Bayer alemã, como a chamada
Candur S-H-L (tríplice: Cinomose, Hepatite e Leptospirose), que infelizmente
dificilmente encontrada no mercado. A título informativo, os animais que
conseguem sobrepujar a doença, vindo a se curarem, ficam portadores do vírus e
o eliminando durante vários meses, podendo funcionarem como disseminadores para
outros animais não devidamente imunizados.
Dr. Carmello L. Thadei