Definindo os
Agentes -
A traqueobronquite infecciosa canina, também conhecida como tosse
dos canis, é uma condição mórbida caracterizada por infecção
respiratória aguda e altamente contagiosa, acompanhada de quadro
de tosse paroxística, podendo haver expectoração variável bem como
secreção óculo-nasal em alguns casos (FORD, 2006).
Os sintomas clínicos da doença, o quadro de tosse estridente de
intensidade variável, são atribuídos à infecção do epitélio da
cavidade nasal, laringe e traquéia, assim como, brônquios,
bronquíolos e o interstício pulmonar. Os quadros mais brandos e
autolimitantes são relacionados à infecção por um único agente,
sendo na maioria das vezes de resolução rápida, apesar da
imunidade produzida ser considerada de curta duração, podendo o
animal tornar-se susceptível a uma nova infecção em poucos meses
(FORD, 2006; DATZ, 2003).
A traqueobronquite infecciosa pode apresentar um caráter mais
grave quanto existem múltiplos agentes relacionados à coinfecção.
O vírus da parainfluenza canina (CPiV) e a bactéria Bordetella
bronchiseptica são os agentes mais comumente relacionados,
embora outros microorganismos tenham sido relacionados com o
surgimento da sintomatologia clínica, influenciando ainda na
intensidade dos sintomas e evolução da doença (FORD, 2006).
|
Agentes relacionados com a
traqueobronquite infecciosa canina |
Vírus |
|
Bactérias |
-
Mycoplasma
-
Bordetella bronchiseptica
-
Streptococcus spp.
|
Quadro 1.
Agentes infecciosos mais comumente relacionados com a
traqueobronquite infecciosa canina (Ford, R.B. In: Greene, C. E.
Infectious diseases of the dog and cat, 3ª ed., 2006).
A Bordetella bronchiseptica é uma bactéria Gram negativa
relacionada como o principal agente etiológico envolvido na tosse
dos canis. Centenas de isolados de B. bronchiseptica, de
graus variados de virulência e patogenicidade, foram obtidos de
cães. Várias outras espécies de animais domésticos e selvagens
podem ser infectadas, podendo ainda representar um patógeno de
importância fundamental e grande letalidade em filhotes de gatos
acometidos por outros agentes do complexo respiratório felino
(acometidos por herpervírus tipo 1 ou calicivírus). Outras
bactérias já foram isoladas do trato respiratório de cães com
traqueobronquite infecciosa (Streptococcus sp.,
Pasteurella sp., Pseudomonas e vários coliformes),
embora sejam consideradas invasores oportunistas, podem ocasionar
infecções secundárias graves que representem risco à vida dos
animais.
Conhecendo a
epidemiologia da Doença -
Não se conhece no Brasil a epidemiologia da traqueobronquite
infecciosa canina. Sabe-se que ela é considerada uma das mais
importantes e prevalentes doenças respiratórias em cães e que
surtos da doença podem adquirir proporções epizoóticas em colônias
de cães ou ambientes de alta densidade populacional e estreito
contato entre os animais, como lojas de animais, petshops, banho e
tosa e hospitais veterinários.
Apesar do aparente sinergismo entre os patógenos Bordetella
bronchiseptica e o vírus da parainfluenza canina tipo 2, eles
possuem perfis independentes de dispersão na população canina. O
vírus da parainfluenza canina tipo 2 pode ser transmitido por até
2 semanas após a infecção, enquanto B. bronchiseptica e
Mycoplasma sp. podem ser eliminados por animais
convalescentes por 3 meses ou mais (FORD, 2006).
Patogenia -
A gravidade da
traqueobronquite infecciosa canina varia de acordo com o agente
envolvido (vírus, bactérias), com a natureza da infecção (causada
por um único agente ou mista), ou ainda, com o grau de imunidade
do indivíduo. Todos estes fatores influenciam sobremaneira no
curso da doença (DATZ, 2003).
Deve-se levar em consideração que o vírus da parainfluenza canina
não se replica em macrófagos e que o quadro infeccioso se limita
ao trato respiratório superior dos cães. A infecção pelo
adenovírus tipo 2 ocorre pela replicação do vírus no epitélio da
mucosa nasal, faringiana, criptas tonsilares, traquéia e
brônquios. Ambas as infecções, em animais imunocompetentes,
costumam ser de curta duração com sintomatologia de resolução
espontânea dentro de poucos dias (FORD, 2006).
A infecção causada por B. bronchiseptica costuma
apresentar-se de modo mais grave, principalmente quando associado
com algum, ou ambos, os vírus citados anteriormente. A transmissão
ocorre por meio do contato direto entre animais infectados e
susceptíveis, ou ainda, pelo contato com microgotículas que
contenham a bactéria eliminada por aerossol. Estas microgotículas
podem contaminar vasilhas de animais ou mãos humanas, que
funcionam como fômites de infecção (FORD 2006).
Durante o período de incubação de aproximadamente 6 dias, B.
bronchiseptica se fixa nos cílios das células do epitélio
respiratório, por meio de moléculas de adesina. Após a colonização
das células, Bordetella produz uma variedade de toxinas
que interferem com a função fagocítica dos macrófagos e induz à
cilioestase, o que diminui as barreiras de proteção do epitélio
respiratório, abrindo portas a outros agentes infecciosos
oportunistas. Em tempo, muitos dos sintomas associados aos quadros
de traqueobronquite nem sempre são causados por Bordetella, mas
sim por patógenos secundários capazes de causar doenças
respiratórias de intensidade variável.
Prevenção -
Várias vacinas
estão licenciadas e comercialmente disponíveis para proteção
contra a B. bronchiseptica, Adenovírus canino tipo 2 e
vírus da parainfluenza canina. Atualmente, existem vacinas
vivas-atenuadas para aplicação intranasal e vacinas inativadas
para uso injetável. A eficácia de ambas as vacinas já é bem
conhecida e considera-se que independentemente da via de
administração, cães vacinados desenvolvem quadros mais brandos da
doença quando comparados com animais controle (não vacinados) após
desafio com cepas virulentas (FORD, 2006, ELLIS, 2001).
As vacinas intranasais vivas-atenuadas apresentam o benefício de
induzir proteção com apenas uma dose após a primovacinação, apesar
de que esta forma de aplicação seja considerada por muitos
clínicos como sendo mais trabalhosa e pouco tolerada por alguns
animais. Por outro lado, sabe que as vacinas intranasais parecem
sofrer interferência na revacinação anual de adultos, o que pode
interferir com o booster vacinal destes animais (ELLIS et al.,
2002).
As vacinas inativadas parenterais necessitam de 2 doses na
primo-vacinação de filhotes ou adultos que nunca tiveram contato
com a vacina, mas apresentam o benefício da facilidade de
administração (a aplicação é freqüentemente bem tolerada pelos
animais), e ainda, não parecem interferir com a revacinação anual
dos adultos, possibilitando uma resposta anual de revacinação mais
potente (ELLIS et al., 2002).
Os estudos de duração da imunidade comparando ambas as formas de
administração (parenteral X intranasal) ainda não foram
realizados. Em relação ao desenvolvimento da imunidade,
recomenda-se que os cães sejam vacinados pelo menos 5 dias antes
de um potencial, e conhecido, risco de exposição aos agentes da
traqueobronquite infecciosa. Apesar da sugestão de que a
administração tópica da vacina seria capaz de prover imunidade
mais precoce, ainda não se sabe se a administração intranasal
imunizaria um cão susceptível em menos de 5 dias (FORD, 2004).
A ocorrência de reações adversas após a aplicação das vacinas
parenterais é rara e tipicamente limitada ao local de aplicação
como uma irritação tecidual, a qual pode ser observada como um
nódulo transitório de resolução espontânea. Por outro lado, o uso
de vacinas intranasais pode ser associado com o desenvolvimento de
tosse ou descarga nasal (ou ambos) 2 a 5 dias após a inoculação.
Estes sintomas pós-vacinais raramente são suficientemente graves
ou persistentes a ponto de necessitarem de tratamento antibiótico.
No entanto, a ocorrência de tosse pós-vacinal em animais que
receberam a vacina intranasal pode ter implicações relevantes para
animais em abrigos pois, pode ser difícil a distinção entre
animais vacinados e os naturalmente infectados (FORD, 2006).
Por último, vale a pena ressaltar que, de formar similar à
vacinação contra outras afecções respiratórias em diferentes
espécies animais, os animais vacinados podem desenvolver os
sintomas da doença, independentemente da vacina utilizada, no
entanto, a evolução dos sintomas e sua gravidade tendem a ser
muito minimizados, havendo ainda menor eliminação dos agentes
infecciosos pelos animais afetados em caso do desenvolvimento dos
sintomas.
Referências Bibliograficas -
1 - DATZ,
C. Bordetella infections in dogs and cats: pathogenesis,
clinical signs, and diagnosis. Compendium on Continuing
Education for Veterinarians. v. 25, n.12, 896-901, 2003.
2 - ELLIS, J.A.; HAINES, D.M.; WEST, K.H.; BURR, J.H.;
DAYTON, A.; TOWNSEND, H.G.G.; KANARA, E.W.; KONOBY, C.; CRICHLOW,
A.; MARTIN, K.; HEADRICK, G. Effect of vaccination on
experimental infection with Bordetella bronchiseptica in dogs.
Journal of American Veterinary Medical Association, v. 218, n. 3,
367-375, 2001.
3 - ELLIS, J.A.; KRAKOWKA, G.S.; DAYTON, A.D. Comparative
efficacy of an injectable vaccine and an intranasal vaccine in
stimulating Bordetella bronchiseptica-reactive antibody responses
in seropositive dogs. Journal of American Veterinary Medical
Association, v. 220, n. 1, 43-48, 2002.
4 - FORD, R. B. Canine Infectious Traqueobronchitis. In:
GREENE, C. E. Infectious diseases of the dog and cat. 3a ed.
Saunders-Elsevier, 54-61, 2006.
5 - FORD, R.B. Bordetella bronchiseptica in dogs and
cats. … Proceedings of TNAVC, 2004.
|
|