DISPLASIA
Todos nossos Labradores são submetidos a radiografia de displasia
coxo-femural a partir dos 12 meses de idade e as chapas também são remetidas a
Inglaterra para apreciação do BVA-
British Veterinary Association.
O termo "controle de displasia" tem confundido as
pessoas, que acreditam que o filhote que estão adquirindo já foi avaliado.
Controle, nada mais é do que um plantel de adultos submetidos ao exame radiológico
ANTES de entrarem na reprodução.
Os criadores mais exigentes costumam fazer a radiografia
"preliminar" ou "prévia" a partir dos 6 meses e a
"oficial" ou "definitiva" a partir dos 12 meses de idade.
Os ancestrais aprovados para reprodução, o plantel atual
radiografado e também aprovado e as radiografias preliminares dos filhotes a
partir dos 6 meses é o que os criadores entendem e querem dizer com o termo
"controle".
Mesmo os pais sendo aprovados para reprodução, isto não garante a sanidade de sua progênie, apenas diminui drasticamente a chance dos mesmos terem displasia no futuro. O controle é feito para garantir que exemplares portadores de displasia não sejam usados na reprodução; e na tentiva de se diminuir a ocorrência de casos. Tenha em mente que a RAÇA é sujeita a displasia coxo-femural e acredita-se que 20% do plantel mundial seja displásico.
O
que é DISPLASIA COXO-FEMURAL
A
displasia é uma má formação nas articulações, com maior incidência nas
ligações entre a bacia e os membros traseiros, caso em que é conhecida como
coxo-femural. Pode atingir machos e fêmeas de qualquer raça, especialmente raças
grandes e de crescimento rápido. A displasia coxo-femural e a de cotovelo podem
comprometer apenas uma das articulações, mas normalmente atinge as duas. Esta
patologia é transmitida de forma hereditária, e é também fortemente
influenciada por fatores de manejo e do meio ambiente. Os
laudos de displasia são emitidos para TODOS os labradores envolvidos em reprodução,
que DEVEM fazer o exame ANTES do acasalamento, mas SOMENTE DEPOIS de completar
12 meses de vida. A verificação é feitas através de uma radiografia; para
tirar esta "fotografia" o animal deve ser tranqüilizado, pois é
submetido a uma posição pouco usual para ele e qualquer movimento, por menor
que seja, pode levar a uma distorção no diagnóstico. É fundamental, para o
sucesso deste exame, que o animal esteja na posição correta e absolutamente imóvel.
Ao levar o cão para ser examinado, não se esqueça de levar o pedigree
original, e isso é muito importante por duas razões: para que o veterinário
possa "imprimir" no animal a identificação do número do pedigree,
por meio de uma tatuagem na orelha ou de um microchip no pescoço; para que na
radiografia conste a identificação do animal (nome, RG) e a data de realização
do exame. Nem todos os veterinários têm experiência e qualificação necessárias
para realizar o exame.
A
Displasia Coxofemoral (DCF) é uma patologia que se caracteriza
por uma má formação da cabeça do fêmur e acetábulo devido a uma
instabilidade presente na região, levando ao aparecimento de alterações
osteoartróticas. Sua primeira descrição em cães foi em 1935 e também já
foi diagnosticada em outras espécies como gatos, bovinos, eqüinos, animais
silvestres e até o homem. Acomete todas as raças, sendo mais comum nas raças
de médio e grande porte, que apresentam rápido crescimento como Pastor Alemão,
Fila Brasileiro, Rottweiller, São Bernardo, Labrador entre outras, não
apresentando predileção por sexo.
Os
cães displásicos nascem com articulações coxofemorais normais, e ocorrem
subseqüentemente progressivas alterações estruturais que incluem relaxamento
articular, inchaço, desgaste e ruptura de ligamentos, arrasamento da cavidade
articular, subluxação da cabeça do fêmur, erosão da cartilagem articular,
ossificação subcondral, remodelação da borda acetabular e da cabeça do fêmur,
e produção de osteófitos na região periarticular.
Acredita-se
que a DCF possui etiologia multifatorial, sendo os seguintes fatores
relacionandos com o desenvolvimento da doença:
Genético: A DCF possui herança poligênica quantitativa (aproximadamente 18 genes) de herdabilidade média a alta, ou seja quanto maior o grau de parentesco com animais displásicos maior é a probabilidade da prole ser displásica;
Nutricional:
Dietas com altos índices de energia, proteína e cálcio proporcionam um rápido
crescimento e um ganho de peso excessivo (aumenta o peso sobre a articulação)
induzindo ao aparecimento da DCF;
Massa Muscular Pélvica: Animais com menores proporções de massa muscular pélvica possuem maiores chances de desenvolverem a DCF. Segundo Riser e Shirer os animais que apresentarem índice de massa muscular pélvica [(peso da musculatura pélvica/peso corporal) x 100] menor que 9 irão desenvolver DCF;
Alterações Biomecânicas: Forças musculares que atuam na articulação coxofemoral ajudam a manter a cabeça do fêmur encaixada com o acetábulo. Redução, eliminação , ou exaustão das forças musculares levam a uma instabilidade na articulação e subluxação. O rápido crescimento do esqueleto em disparidade com o crescimento muscular também induz o aparecimento da DCF;
Outros fatores como hipotrofia das miofibras do músculo pectínio, alterações que aumentam o volume do líquido sinovial, alterações hormonais (hiperestrogenismo materno), insuficiente síntese proteica, deficiência de vitamina C, excesso de exercícios na fase de crescimento e permanência do animal em pisos lisos que levam a uma instabilidade articular também estão relacionados com o aparecimento da DCF. Deve-se ressaltar que a genética atua como causa principal enquanto os demais fatores podem agravar uma predisposição já existente geneticamente.
No
perrfil de cada padreador você encontrará informações importantes sobre o
controle de displasia realizado pelo nosso Canil.
PROVET
é o laboratório onde é feita a radiografia de displasia; é um centro
especializado de diagnóstico em São Paulo, no qual trabalham profissionais
altamente capacitados e respeitados no meio cinófilo.
BVA
significa British Veterinary Association, que também recebe as radiografias e
faz as avaliações. A participação de uma associação da Grã-Bretanha é
mais uma medida de segurança, pois a maioria dos cães summer storm foi importada
de lá. Com estes "scores", a BVA traça panoramas atualizados e
monitora a evolução ou involução da displasia em diversas raças. A
apresentação destes parâmetros internacionais facilita também o entendimento
dos estrangeiros, que ficavam em dúvida com as siglas usadas no Brasil.
A
codificação que é usada pela BVA ao mostrar o resultado é por exemplo
"05:03". O símbolo que a segue, HD- (abreviatura
para Hip Dysplasia) é usado no Brasil.
Os
números da BVA são os "scores", a graduação
atribuída a cada articulação, sempre a da esquerda primeiro, seguida pela da
direita. Quanto mais baixos forem os números, melhor o laudo. Para se avaliar o
quanto o animal está próximo do padrão aceito para a raça, faz-se a soma dos
"scores". No nosso exemplo, a soma é 8. A média da raça Labrador,
divulgada pela BVA em 1998, é 16,4, para a soma dos "scores".
A
BVA analisa cada articulação separadamente e para se chegar à graduação
final os exames evolvem um anatomista, um radiologista e um geneticista. Eles
avaliam aspectos que normalmente não considerados no Brasil, como o encaixe da
cabeça do fêmur, sub luxação, pescoço do fêmur.
Os
códigos utilizados no Brasil têm a seguinte leitura:
Código |
Class. |
Displasia considerada |
Reprodutor |
HD- |
A |
Normal |
Apto à reprodução |
HD +/- |
B |
Quase normal |
Apto à reprodução |
HD+ |
C |
Ainda aceita |
Apto à reprodução |
HD++ |
D |
Moderada a média |
Não apto à reprodução |
HD+++ |
E |
Severa a grave |
Não apto à reprodução |
Também
nos exames feitos no Brasil, são atribuídas graduações a cada uma das
articulações, mas covencionou-se apresentar apenas a pior avaliação para
designar o diagnóstico. Assim, um animal cuja avaliação tenha resultado em HD
- de um lado, e HD +/- de outro, tem um lado normal e o outro quase normal. Para
efeito de apresentação de seu grau de displasia, ele é classificado como HD
+/-.
PROVET – Dr. Edgar Sommer
Av. Dos
Aratãs, 1009 Planalto Paulista São Paulo – SP Tel:(11) 5561-1427
Orthopedic
Foundation for Animals (Ofa). Base de dados e estatísticas
atualizadas sobre displasia coxofemural e de cotovelo.
Diagnóstico
O
diagnóstico da DCF é exclusivamente radiológico. O diagnóstico a partir dos
sinais clínicos não é suficiente, pois nem sempre são compatíveis com os
achados radiológicos. Portanto não se deve dar um atestado de não displásico
apenas pela ausência de sintomas, todos os animais devem ser radiografados.
Para
ser radiografado o animal deve ser sedado para facilitar o posicionamento
adequado. O animal deve ser colocado em decúbito dorsal com os membros
posteriores bem estendidos, paralelos entre si e ligeiramente rotacionados
internamente. A pelve deve estar simétrica e a coluna vertebral paralela aos
membros.
Existem
diferentes técnicas para avaliação da radiografia, as mais usadas são as
desenvolvidas pela Orthopedic Foundation for Animals-EUA(OFA), pela Universidade
da Pensilvânia-EUA (PennHip), pelo British Veterinarian Association- Inglaterra
(BVA) e o Método de Norberg (HD). Para o atestado definitivo os animais devem
possuir idade superior a 12 meses pelo BVA e pelo Método de Norberg, e idade
superior a 24 meses pela OFA. As fêmeas devem ser radiografadas com pelo menos
30 dias antes ou após o cio, pois a influência hormonal pode causar uma falsa
impressão de subluxação.
|
As
estruturas anatômicas a serem analisadas na avaliação radiográfica
são: 1-Borda acetabular craniolateral; 2- Margem acetabular cranial; 3-
Cabeça do fêmur; 4- Fóvea; 5- Espaço articular; 6- Borda acetabular
caudal; 7- Margem acetabular dorsal; 8- Junção cabeça-colo do fêmur;
9- Fossa trocantérica. |
Na
avaliação radiográfica o animal pode ser incluído nas seguintes categorias
de acordo com as alterações presentes:
HD- (equivale aos OFA excellent e good):
Animal ausente de DCF. A cabeça do fêmur e acetábulo são congruentes,
sendo o espaço articular fechado e regular. Pelo Método de Norberg
apresenta apresenta ângulo de aproximadamente 105º
(somente como referência); |
|
HD+/- (equivale aos OFA fair e
boderline):
Animal suspeito de apresentar DCF. A cabeça e o acetábulo apresentam
ligeira incongruência respeitando os limites radiográficos. Pelo Método
de Norberg apresenta apresenta ângulo de aproximadamente 105º
(somente como referência); |
|
HD+ (equivale ao OFA mild):
Animal com DCF leve, ainda é permitido o acasalamento. A cabeça e acetábulo
incongruentes (mínimo de subluxação), ligeiro arrasamento da cabeça do
fêmur. Os sinais de alteração osteoartróticas são mínimos ou
ausentes. Pelo método de Norberg o ângulo é aproximadamente 100º; |
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HD++ (equivale ao OFA moderate):
Animal com DCF média. Achatamento da cabeça do fêmur, arrasamento do
acetábulo, ossificação subcondral, perda do espaço articular, formação
de osteófitos, alterações no colo do fêmur, presença de subluxação.
Pelo método de Norberg, apresenta o ângulo maior que 90º; |
|
HD+++ (equivale ao OFA severe):
Animal com DCF grave. Presença de luxação, arrasamento severo da cabeça
do fêmur e do acetábulo (quase plano), presença de osteófitos em vários
pontos, ossificação subcondral, alterações no colo do fêmur. Pelo método
de Norberg, apresenta o ângulo menor que 90º; |
|
Sintomas
e tratamento
Os
sinais clínicos geralmente começam aos 5-8 meses de idade, sendo que em alguns
casos não aparecem até os 36 meses de idade. Os sintomas são extremamente
variáveis, sendo que os animais podem apresentar dificuldade ao andar,
levantar, correr e subir escadas; dorso arqueado, andar cambaleante e claudicação,
abrasão das unhas dos membros posteriores; diminuição da amplitude de
movimentação dos membros posteriores; atrofia da musculatura dos membros
posteriores; sensibilidade local, sendo está exacerbada após exercícios. É
importante lembrar que nem sempre existe uma relação entre os sintomas e o
grau de displasia que o animal apresenta, isto é animais com displasia severa
podem correr, pular e brincar enquanto que animais com displasia leve podem
apresentar uma forte claudicação.
Não
existe uma cura para a DCF, os tratamentos visam minimizar a dor, combater os
sintomas dando uma melhor condição de vida para o animal. Nos casos mais leves
recomenda-se a diminuição do peso do animal para reduzir o estresse mecânico
sobre a articulação, e fisioterapia (natação) para prevenir ou aliviar o
processo inflamatório presente. Nos casos mais graves podem ser usados
antinflamatórios não esteróides para o controle da dor, como também podem
ser associados precursores de proteoglicanos que são um importante constituinte
da cartilagem hialina que forma a articulação. Os tratamentos cirúrgicos
incluem osteotomia tripla pélvica (TPO), remoção completa da cabeça e do
colo do fêmur, artroplastia completa da articulação, entre outros.
Comentário
final
Os
filhotes de raças de médio e grande porte devem ser alimentados com rações
específicas para controlar o seu desenvolvimento, evitando o crescimento rápido
e exagerado. Devendo também ser evitado a obesidade e o excesso de exercício
na fase de crescimento.
É
importante salientar que devido a sua herança poligênica quantitativa a DCF
pode ser reduzida mas não eliminada desta forma, mesmo acasalando animais
normais pode-se ter filhos displásicos, porém em menor proporção.
Para
o controle da DCF os proprietários e criadores devem ter em mente a importância
de se obter, com veterinários experientes na área de radiodiagnóstico, o
atestado radiológico dos animais a serem acasalados, buscando diminuir a incidência
da DCF no seu plantel.
Bibliografia
consultada
FLO
B. P. M. Handbook of small animal orthopedics & fracture treatment.
WB Saunder Company, 2ª edition, 1990, p.355-356.
MORGAN R.V.
Handbook
of small animal practice. WB Saunder Company, 2ª edition, 1992, p. 866-868.
WHITTICK W. G.
Canine
orthopedics. Lea & Fediger, 2ª edition, 1990, p. 796-797.
Site da
Orthopedic
Foundation for Animals (www.offa.org)
Figuras
Site da
Orthopedic
Foundation for Animals (www.offa.org)
Dra
Flávia Mª Maruch Hallack e o Dr Guilherme L. O. de Noronha são Médicos
Veterinários
atuantes na Grande Belo Horizonte, criadores de Labrador Retriever
e são patrocinados pela EUKANUBA.
Publicado
na revista Cães de Fato - ano 5 - número 17. 2000. De Fato Promoções e
Eventos Ltda.
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