Thays e Boris, barrados no Metrô
Jornal da Tarde, 06/05/2001
Além das dificuldades comuns à adaptação com o cão guia, a paulistana Thays Martinez, de 27 anos, enfrentou um problema adicional. O Metrô quis aplicar o regulamento que impede o transporte de animais e vetou a presença de Bóris, o Labrador que a guia para o trabalho e escola. Oficial de Promotoria do Ministério Público de São Paulo, Thays abriu uma ação contra a empresa, e imediatamente obteve uma liminar que a autoriza a entrar no Metrô acompanhada do cão. Isso ocorreu em maio de 2000, e o caso continua tramitando na Justiça. Lei existe, mas ... Em São Paulo, uma lei municipal dispõe sobre o acesso de cães guias a lugares públicos – é permitido desde que seus donos portem certificados de saúde e vacina. E no mês passado saiu a regulamentação da lei que permite o acesso de cães-guias em locais públicos. O diretor de Operações do Metrô, Decio Tambelli, informa apenas que o Metrô é réu no processo e que o direito de Thays de freqüentar o sistema está assegurado. Segundo ele, o Metrô concedeu a autorização logo após o “caso Thays” no ano passado. Tambelli diz que os demais interessados em freqüentar o Metrô com cães guias devem procurar a empresa para mostrar o atestado de saúde e vacina do cão exigidos por lei. “Mas até agora ninguém mais nos procurou”. Thays anda com os documentos, mas nunca foram solicitados a ela, à exceção do Metrô. “Às vezes demora um pouco para explicar a situação em bares e restaurantes, mas sempre é possível. O único caso de intransigência foi o do Metrô”. Thays lembra que foi impedida de entrar na estação com o cão mesmo quando já portava a liminar judicial que lhe concedia livre acesso. “O segurança impediu a nossa entrada de fato”. Escada, não Em outra ocasião, a entrada foi admitida, mas os seguranças não queriam que ela usasse a escada rolante com Bóris. “Eu sempre utilizei a escada rolante. E mantive minha decisão de usá-la, mas quando estava lá eles desligaram o equipamento”. Atualmente, Thays tem livre acesso às dependências do Metrô – inclusive escada rolante – devido à liminar. E tem certeza de que vai ganhar a ação, e acha que o metrô só mantém o pedido de que ela seja impedida de entrar com Bóris por “capricho de algumas pessoas do Departamento Jurídico”. Segundo ela, os demais passageiros nunca se importaram com o cão. “A maioria das pessoas faz questão de sentar perto para acariciá-lo. Os que gostam menos sentam longe, mas jamais alguém reclamou da presença dele”. Thays também não enfrenta problemas para andar com Bóris em aviões. Ela já fez algumas viagens aéreas com ele, que vai deitado ao seu lado. Thays não tem nenhuma dúvida de que valeu muito a pena todo o estresse por que passou. Saldo positivo “O lado bom supera as dificuldades de longe, os benefícios são muitos”. Segundo ela, é difícil para uma pessoa “normal” mensurar o quanto o trabalho de um cão guia é importante e pode mudar a vida de quem tem deficiência visual. “Elimina até 90% das barreiras presentes no nosso dia-a-dia”. “Para começar, não andamos mais com um objeto estigmatizado (bengala), mas com um ser vivo, o que é muito diferente”. Para Thays, a bengala ajuda a reforçar a “imagem de um deficiente hipo-suficiente”, enquanto com o cão as pessoas têm uma abordagem distinta. “Conheci muita gente por meio do Bóris. Pessoas que disseram que não saberiam como se aproximar se eu não estivesse com um cão guia ”. Há dez meses com Bóris, Thays está cada vez mais apaixonada por ele. “O vínculo de afetividade mútua vai se desenvolvendo. Hoje, eu o sinto muito mais preocupado comigo do que no início”. Thays trabalha no centro de São Paulo, na Praça da Sé, e à noite freqüenta um curso na Avenida Paulista. Trajetos nada fáceis. “Ele é muito inteligente. Na verdade, acho que um cão guia, para trabalhar em São Paulo, tem de ser meio genial”.
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